WarpReviews: New Super Mario Bros. | DS

Por Barry Burton

Eu cresci jogando Mario.

Mario podia pular barris e subir escadas, além de pegar uma marreta no caminho para salvar sua garota de um macaco gigante. Logo em seguida, aprendeu a virar bichos estranhos de cabeça pra baixo ao dar com a cabeça no chão abaixo deles, enquanto colhia moedas. Depois ele desenvolveu sua cabeçada para quebrar blocos, descobriu que podia crescer comendo um cogumelo e soltar fogo pelos dedos, mesmo enquanto nadava ou desviava de balas, pisoteando vários inimigos e chutando cascos de tartaruga em seu caminho cheio de canos para derrotar o temível Bowser (ou Koopa, na época). Logo depois, ele e seus três amigos arrancavam legumes… hm, desconsiderem essa parte. Era divertido, mas não passava de um hack americano de Doki Doki Panic!, um inexpressivo jogo japonês. Então, Mario aprendeu a voar. E a virar sapo. E estátua. E a segurar cascos. E a enfrentar gigantes. E derrotar a família Koopa. E escolher qual mundo entraria a seguir. Mas esse não era seu limite! Mais para frente, ele conhece um dinossauro chamado Yoshi, no qual poderia montar e mandá-lo engolir as mais variadas coisas, de maçãs a cactos espinhudos (haja estômago!), além de ter um controle muito mais preciso pelo ar, poder ir e vir a esmo pelo mundo, destrancar portas secretas, destruir blocos com os pés, passar por castelos fantasmas, ir para áreas completamente secretas, e mudar o mundo inteiro caso fizesse um par de coisas.

Assim era o Mario 2D. Deixando de lado (em termos “reviewsianos”) o excepcional Super Mario 64 e o não tão brilhante, mas muito bom Super Mario Sunshine – além de, é claro, Yoshi’s Island, que é um jogo do Yoshi (e pra mim ainda de pé como o melhor jogo de plataforma 2D que existe, em todos os sentidos) – Mario foi evoluindo a passos largos a cada novo capítulo de sua série. Passos MUITO largos, a ponto de um game ser bem diferente de um anterior, o que justificava a longa espera entre cada um deles. E talvez seja por isso que New Super Mario Bros. pareça um pouco decepcionante para os veteranos. Limaram os power-ups. O jogo voltou a ser linear. O mapa é simplório. A dificuldade é ridícula. Poucas fases e caminhos secretos. Não tem nem sombra do Yoshi. Alguns clamam isso como um retorno às raízes, mas não dá pra disfarçar uma lágrima de tristeza quando tudo que você tinha pra fazer no jogo acaba em pouquíssimas horas.

Não que o jogo seja ruim, aliás, muito longe disso. Você irá adorar cada segundo de sua empreitada. A começar pela jogabilidade, das poucas que podem ser chamadas de “perfeita”. Não há um momento sequer no qual você não se divirta de andar por aí, seja correndo, pulando, ou até mesmo nadando, o que costuma ser um saco em jogos do gênero. Cada fase é única, mantendo um aspecto diferenciado, como cogumelos que encolhem e esticam ou uma chuva de aranhas irritantes. Infelizmente, o design de fases não tem a finesse dos games antigos, onde cada tela continha um desafio diferente, e algumas delas são incrivelmente curtas. Há alguns novos movimentos, como o Wall Kick – no qual Mario pula de uma parede pra outra – e a “bundada”, clássico golpe em que Mario gira no ar e desce em uma poderosa bundada, a la Mickey Mouse (e outros personagens afeminados).

O jogo está recheado de nostalgia...

A jogabilidade é tão perfeita, aliás, que o jogo é fácil. É sério! Não sei o que há com a Nintendo de hoje, mas seus jogos estão ficando estupidamente fáceis (cito aqui alguns chefes de Zelda Twilight Princess, um dos quais se tonteia sozinho para você bater e outro que tive que deixar me atacar para ver como era o seu golpe), provavelmente para agradar a todos os públicos. Essa sua “fórmula” às vezes incomoda. Por que é possível ter 50 vidas logo no segundo mundo? Um simples sistema no qual, ao se desligar o jogo, seu contador voltasse para 4 já teria resolvido – como em Mario 64 e Super Mario World. Por que os chefes são tão repetitivos e fáceis? Se você tem a flor-de-fogo, atire incessantemente que ele morre. O golpe bundada praticamente mata por si só.

Os gráficos são coloridíssimos e muito chamativos, com todo o charme ao qual estamos acostumados. Você andará por diversos tipos de terrenos, como o usual: desertos, planícies, montanhas, nevados etc. Uma pequena “reclamação” pode vir da parte que praticamente todos os modelos de personagens, tal qual suas animações, foram chupinhados do Super Mario 64 DS sem nenhuma vergonha na cara, e isso vai desde os bonecos do Mario e Luigi até as já citadas aranhas, Goombas, Koopas Troopas, cactos, bichos-que-deslizam-na-água e afins. “Reclamação” está entre aspas porque são modelos muito bem-feitos e mesclam perfeitamente com o fundo 2D, mas não deixa de ser meio preguicento.

As músicas são muito boas, apesar de poucas. Elas ditam o ritmo do jogo, e raramente enjoam. Há alguns temas familiares, como a da mansão mal-assombrada e do castelo (aliás, a melhor composição do jogo) e muitos inteiramente novos. Os efeitos sonoros variam entre o nostálgico, com os mesmos samples do NES, aos fantásticos, como o efeito Surround da bola de ferro rolante em um dos sub-castelos. Só jogando pra sentir aquele calafrio do som indo pra trás da sua cabeça (como eles fazem isso com os speakers do DS eu não sei).

...e de novos momentos inesquecíveis!

Já um dos grandes “plus” de games Mario, os power-ups, infelizmente são fracos nesse game. Como disse antes, os mais divertidos – voar, sapo, Yoshi – não existem. Em troca, temos um casco azul que o permite rolar como um… casco, quebrando algumas paredes e te deixando praticamente invencível, mas de controle difícil; um mini-cogumelo que te encolhe e permite pular mais alto e andar sobre a água; e o cogumelo gigante, que  o transforma em Ultra-Ma… rio, um ser sedento de destruição que troca blocos e inimigos destruídos por cogumelos verdes. Só que esses power-ups só são realmente úteis para poder abrir alguns caminhos alternativos. O casco azul não muda em nada o jogo, a não ser quando você quer pular longe e sem querer ricocheteia na parede. O Mini-Mario é difícil de controlar e morre muito facilmente. Já o Ultra-Mario está presente em apenas duas ou três fases, das 80. Para ativá-lo com mais freqüência, você terá que ganhar e guardar o item em uma das casas Toad espalhadas pelo mapa. Mas é inútil. Não há o que fazer com ele, além de quebrar uma ou duas fases subterrâneas cheias de blocos. Pra piorar, conseguir um desses power-ups é muito complicado e difícil, mas da maneira chata. Apenas algumas fases possuem blocos com eles, e você se verá entrando várias vezes nas casas Toad para tentar a sorte ou morrendo e entrando nas fases com exclamações vermelhas até que ele saia.

Mas o jogo peca mesmo é nas recompensas. Não há muito o que se fazer após terminá-lo. Abrir todas as fases extras e coletar todas as moedas não dá tanto trabalho, como, por exemplo, na série Donkey Kong Country. Os dois mundos “secretos” são, na verdade, parte do jogo, e você abre ambos da mesma forma. Ao se terminar, supostamente, o game, você só abre 3 fases a mais, que nem são tão difíceis assim. Extras? Míseros papéis de parede para a Touch Screen, que não servem pra absolutamente nada. Poderiam ao menos dar a opção de abrir mini-games novos, mas todos já vêm jogáveis da caixa.

Aliás, talvez esses mini-games existam exatamente para compensar a curta duração do game. A maior parte deles é simples reciclagem dos do Mario 64 DS, porém com os chatos e inúteis (como o de adivinhação de cartas e o de memorização de sons) substituídos por alguns bem mais interessantes (como o meu favorito, de colocar as bombas coloridas no lugar certo). Mas a maior adição foi o multiplayer para até quatro jogadores, o qual tive o prazer de experimentar com amigos e se revelou muito justo e divertido, dificilmente enjoativo. Outro multiplayer muito interessante é o Mario vs. Luigi, no qual duas pessoas se digladiam por estrelas, usando todos os power-ups do jogo para arrancar vidas ou estrelas do adversário. Se os power-ups do modo single-player fossem intensos como é nesse adendo, seria muito mais legal! Aliás, com algumas fases e traquitanas a mais, poderia até se tornar um jogo independente, como uma super-versão do antiqüíssimo Mario Bros. (POW). Descobri bem mais tarde que esse modo foi idealizado pelo Miyamoto. Talvez isso explique.

O gigante inútil parecia bem mais divertido nas artworks

New Super Mario Bros. é exatamente o que o título sugere, um Super Mario Bros novo. Não é o 4 ou o 5 (caso você considere o Mario World como 4). Ele está muito mais para uma continuação da primeira versão do NES do que o próximo passo 2D da franquia. É o SMB 2 que jamais existiu, considerando que o 2 japonês é o 1 mais difícil e o 2 americano é um hack de Doki Doki Panic!. É um jogo excelente, provavelmente o melhor jogo de plataforma 2D que surgiu nos últimos anos, mas é só. Curto e fácil, e claramente inferior aos últimos capítulos, não deixando, no entanto, de ser divertido pacas. Os Mini-games são muito bem-vindos, mas não são nada mais que passa-tempos. Você se sentirá nostálgico ao ter a oportunidade de jogar novamente com o Mario em um mundo 2D, na fantástica jogabilidade que é marca registrada da série, mesmo passando por leves irritações como os power-ups inúteis. Porém, pode ter a certeza de que você irá querer jogar de novo ao terminar. E de novo. Sem contar que sempre é bom pisotear Goombas.

Dica SGP: para jogar com o Luigi, segure L+R na hora de escolher seu save file.